Ascensão do Inimigo

A Guerra da Lança tinha chegado ao seu fim, grandes cavaleiros se sacrificaram para manter a paz, mas o exército maligno não tinha sido derrotado totalmente. Em sua poderosa fortaleza a Dama Azul ainda planejava um último ataque de sua Armada Dracônica aos Reinos de Solamnia. No entanto, um mal muito mais antigo foi despertado sem o conhecimento de nenhum dos lados. Um inimigo incrivelmente poderoso que usa sutilmente sua influência sombria para alcançar seus objetivos. Cabe a um grupo de bravos heróis confrontar esse perigo avassalador que a todos domina. O Sussurro das Trevas é um épico de fantasia dividido em três partes que narrará uma saga no mundo de Dragonlance.

Poema dos Seis Heróis

“A palavra será a redenção dos pecadores
Apenas o mais misericordioso a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O escudo será a proteção dos desamparados
Apenas o mais honrado o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

A espada será a justiça dos oprimidos
Apenas o mais temerário a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O cajado será a lei dos desesperados
Apenas o mais prudente o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

A flecha será o equilíbrio dos soberbos
Apenas o mais sábio a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O machado será a vingança dos esquecidos
Apenas o mais audacioso o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas”

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Capítulo IX - Nas Profundezas da Escuridão

Os sete companheiros entraram no íngreme túnel que serpenteava pelo interior das antigas minas de bronze da cidadela de Relgoth. Era uma senda natural de rochas sólidas e pontiagudas, de difícil travessia, embora as escadarias feitas há muito tempo ainda estivessem boas para serem usadas. Sua própria escuridão os teria derrubado se não fosse a luz que se propagava da ponta do cajado de Fizban, mas o cheiro fétido que vinha das entranhas das Montanhas de Vingaard quase os levou à vertigem. Durante um milênio aquela passagem não era usada e a natureza há muito já tinha retomado seu domínio sob as cavernas. Se não fosse pelo lance de escadas na garganta da caverna ninguém poderia dizer que havia a mão de algum homem naquele lugar amaldiçoado, ninguém poderia dizer que em algum tempo longínquo aquilo já fora uma mina de anões da colina.
- Bah! – exclamou o mercenário proscrito. – Não é exatamente uma mina do meu povo, mas sem dúvida, anões ajudaram a construir este local, pois se assim não fosse, as escadarias nem existiriam mais. Construímos lugares para durarem milênios! Nossas moradas desafiam o rio do tempo.
- Sim, meu caro Thorvalen! – comentou Valdor. – Mas se estou bem me lembrando, havia uma mina do seu estimado povo por essas bandas, não? Chamava-se Helgardin e acredito ter sido exatamente neste lugar em que nos encontramos! Estou certo?
- Helgardin? Pode até ser, pois na minha língua isso significa morada do bronze e havia muitas de nossas minas pela Cordilheira de Vingaard!
- Bronze novamente? – perguntou Orvalho da Aurora. – Esse metal é de muito valor para os humanos?
- Sim e não! – respondeu Sir Hector. – Há milênios atrás não tínhamos conhecimento do aço e o bronze era uma das melhores peças para se fazer armamento e mesmo um tempo depois ficou como um metal nobre para ser usado em esculturas e outras peças de arte, mas hoje já se tornou um pouco comum, eu acredito. Isso pode ter agravado a situação da Cidadela dos Leões no tempo da ruína de meu ancestral, Dinadan.
- Não apenas isso, meu bom cavaleiro! – falou o gnomo Dális. – Bronze é uma mistura de estanho e cobre, feita para aumentar a resistência estrutural do metal e isso realmente ocorre, pois o bronze agüenta bem a corrosão atmosférica! No entanto e, entretanto, o metal é fácil de fundir e por isso podemos ver tantas peças de escultura feitas deste metal na Cidadela também. Ótimo pra construir nossas ferramentas e o meu povo o usa para fazer parafusos, molas e as mais diversas engrenagens! Tem um tipo de energia que nós tiramos dos relâmpagos e o bronze a conduz muito bem! Ah, claro! Esta é para meu bom Valdor... Muitos instrumentos musicais podem ser feitos de bronze! Tanto os de percussão como os de sopro...
- Os sinos da Catedral do Pai de Platina são feitos de bronze – interrompeu gentilmente Diana, pois sabia que ninguém mais entendia bem o que o pequeno estava falando exatamente. – Quando foi que essas minas foram abandonadas? Há uns mil anos atrás não?
- Foi em 1027 pré-Cataclismo! – esclareceu o Heraldo. – Durante a Terceira Guerra dos Dragões! Lembro que até Sir Dinadan chegou a lutar ao lado de Huma Destruidor de Dragões, mas acho que isso não passa de uma lenda!
- Não! – discordou o cavaleiro. – Ele realmente encontrou Huma! Estavam sob o comando de Lorde Oswal no vilarejo de Seridan ao noroeste de Kyre. O lendário Destruidor de Dragões era um mero escudeiro na época.
Os heróis prosseguiram com diligência pelas longas escadarias da garganta da mina que os levava cada vez mais para as profundezas das masmorras de Vingaard.
Puderam ver um grande saguão escavado na pedra onde não podiam observar completamente seu fundo, já que era maior que o alcance da luz arcana do cajado luzente do velho mago. Havia tanto estalactites quanto estalagmites em um local úmido e empesteado de ratos e morcegos que fugiram pela simples presença dos estranhos intrusos. Entre as sombras das formações naturais quase não podiam ver os carroções de mineiros que ainda estavam lá, junto a caixas extremamente deterioradas e vários corpos putrefatos que não passavam de esqueletos agora. O cheiro dos séculos era nauseante, mas o mais perturbador era o silêncio que se estabeleceu com a saída dos animais peçonhentos. Nem a elfa era capaz de escutar algo e aquilo começou a ser mais assustador que a enorme escuridão profunda que se alastrava pelos túneis.
- Hum, há muito esse lugar não é incomodado realmente! – informou o mago fazendo alguns companheiros se assustarem por ter falado de repente. – Estamos a uns cem metros abaixo da entrada.
- Balela! – resmungou o anão da colina olhando atentamente para as paredes e tocando o chão. – Estamos precisamente a sessenta e três metros abaixo da Cidadela Fantasma e aqui ainda é um pouco íngreme e escorregadio se querem saber. Fiquem de olhos abertos!
- Desculpe! – disse Fizban. – Acho que meus sentidos de anão não são tão bons como os seus, eu presumo! – e ninguém entendeu o que aquele velho queria dizer com isso, já que de fato não era um anão. – Foi àquela subida lá atrás sabe? Antes de chegarmos à Cidadela Fantasma. Não costumo a subir muito, apenas a descer, mas é bom saber que estamos indo mais a baixo!
- Orvalho de Aurora! – chamou Sir Hector. – O que seus olhos podem ver ao fundo deste local?
- Não muito, pois a luz do mago é fraca! – respondeu. – Mas acho que tem uma fenda trespassada por uma ponte não muito ao longe!
- Ora! – falou indignado o velho. – Se não gosta da minha luz faça uma você mesma! Não precisa a magoar assim! Saiba que o pai dela já iluminava locais como este bem antes de você vir ao mundo, sua kagonesti insolente!
- Cha! – exclamou assustada. – Não quis lhe ofender, Fizban! Suas habilidades mágicas sempre nos ajudaram, só disse que se a luz fosse maior eu veria mais! Desculpe! O senhor não me entendeu...
- A senhorita que não entendeu! Eu não me ofendi, foi a luz que se ofendeu! Coitadinha, ela ainda é uma criança e não sabe iluminar muito!
- No Monte Deixapralá estamos tentando fazer com que aquela energia dos relâmpagos sirva pra pôr em lampiões! Seria uma criação meio complexa, mas máquinas pequenas e simples são criadas por mentes pequenas e simples. Enfim, assim acreditamos que será de duração bem mais longa, embora a luz do gás que sai das profundezas do Monte já nos ajuda um bocado, mas é meio complicado extrair sabe? Muito inflamável aquilo e já causou certos acidentes explosivos! Uma vez, eu estava...
- Bah! – se irritou Thorvalen. – Não vamos ficar aqui discutindo com um mendigo louco e uma maritaca! Temos que continuar, pois as pessoas de Relgoth contam conosco! Vamos logo e fiquem todos de olhos bem abertos!
Continuaram pelo salão escuro até poderem examinar melhor os carroções dos mineiros. Eram feitos de metal que já estava, há muito, enferrujado pelos milênios de existência. Tinham estranhas rodas e de fato havia um estranho caminho feito de duas linhas de metal transpassadas por passarelas de madeira desgastada, mas ainda em suas posições originais.
- Olhem! – disse a elfa selvagem. – O que seria isso?
- São trilhos! – respondeu Sir Hector. – Eles levam os carroções de forma mais rápida pelas minas já que seria impensável pôr um cavalo aqui! Foram feitos pelos anões, mas com a supervisão dos gnomos eu acho!
Naquele momento todos olharam para Dális esperando alguma explicação de como funcionaria aquele estanho veículo.
- Ah, sim! – respondeu o pequeno gnomo. – Isso é criação da Guilda dos Transportes e seria impossível viver no Monte Deixapralá se não fosse por trilhos como este. Claro que também tem os elevadores, mas está invenção nunca deu muito certo, o que é ótimo! Sabe, sempre acabam saindo uma em três pessoas machucadas por usar os elevadores. Entretanto e, no entanto, estes trilhos são ótimos, muito seguros de fato! Se bem que temos muitos lá no Monte e acaba um batendo no outro às vezes e quando estão em alta velocidade, e acreditem quando digo que é muita velocidade, eles batem e causam um estrago danado! Claro que é uma ótima oportunidade para fazer reparos e aperfeiçoar algumas coisas, apertar os parafusos, como dizemos, mas a última vez que isso aconteceu... Nem queiram saber, sabe?
- E não queremos saber mesmo! – esbravejou o anão. – Bah! Alguém cale a boca dessa matraca antes que eu mesmo o faça!
- Calma! – disse Sir Hector. – Vamos continuar.
O grupo seguiu pelo salão, mas sem o silêncio desejado por Thorvalen, pois Dális se animou a falar sobre todas as invenções da Guilda dos Transportes e seus veículos malucos que ninguém compreendia.
Orvalho da Aurora tentou examinar o local, mas percebeu que sua modesta habilidade de rastreio era inútil no subterrâneo. O anão da colina tinha realmente mais jeito com aquele lugar e ela percebeu que seu amigo finalmente parecia estar em casa, já que as profundezas da terra eram tanto o lar do povo de Thorvalen quanto as florestas eram para ela. Ficou de certa forma feliz com aquilo, mas sua atenção se desviou, pois percebeu uma movimentação estranha em um dos carroções enferrujados.
A elfa foi se aproximando, com seu arco longo retesado, tendo o máximo de cautela com a qual fora treinada e espiou dentro do transporte. Escutou um som e teve que se empertigar para ver devido à altura do estranho veículo. Súbito o carroção se desequilibrou com o peso e virou para o lado de Orvalho da Aurora, que agilmente se esquivou para trás. Entretanto um corpo esquelético caiu sobre ela, agarrando-a de modo que ela não pudesse atirar com sua arma. A jovem druidisa então berrou pelos companheiros:
- Tanderesth! – gritou ela pedindo por socorro. – Quen Talas Uvenelei!
Todos se prontificaram a atender ao pedido de socorro da amiga, mesmo aqueles que não entendiam a língua élfica. Mas foi apenas um deles que chegou realmente rápido retirando o esqueleto de cima da jovem.
- Estais bem? – perguntou Sir Hector. – Se machucou de alguma forma?
- Não, mas ele me atacou! O morto me atacou! Um lugar amaldiçoado realmente!
- Balela! – disse Thorvalen. – Apenas virou o carroção e um corpo caiu sobre ti! Elfa maluca! Teu grito deve ter acordado realmente os mortos agora!
A kagosnesti se sentiu envergonhada pelo ocorrido e encolheu o corpo com tristeza nos olhos. O Cavaleiro de Solamnia percebeu isso e a abraçou com carinho. Primeiro ela tentou lutar contra o gesto amigo, mas desistiu pela força e vontade do homem que arriscou algumas palavras na linguagem dela:
- Sinpah-thalui – disse. – Calma! Está tudo bem!
O neidar proscrito se apiedou dela e pensou se não teria dito palavras duras demais sem motivo. Refletiu em pedir desculpas ou ao menos mostrar que estava arrependido, mas Thorvalen era um anão no fim das contas e não fez nada disso, apenas juntou suas coisas e instigou todos a continuarem...
Finalmente chegaram à ponte e perceberam que ela era feita apenas pelos estranhos trilhos dos mineiros. Assim era uma ponte estreita e vazada. A distância de cada madeira paralela à outra era de um passo largo. Todos concluíram que poderiam passar, mas seria uma tarefa trabalhosa, sem levar em conta que com o tempo que aquilo fora construído, qualquer uma das madeiras poderia ceder com o peso de um deles.
- Será uma grande queda! – disse Valdor olhando para Orvalho da Aurora. – Não vejo o fundo da fenda!
- Também não posso ver! – afirmou ela. – Mas escuto uma queda d’água!
- Bom, esqueças as tábuas! – informou o anão. – Andem pelo trilho de metal que é mais seguro. Bah, se ao menos tivéssemos um corrimão...
- Isso pode ser feito! – Falou a elfa com alegria. – Quanto é a distância até o outro lado Thorvalen?
- Acho que uns dez metros! Por quê?
- Ótimo!
A jovem retirou uma flecha da aljava de Silvannos que tinha a ponta bifurcada e laminada. Amarrou sua corda na outra extremidade da seta e disparou com seu arco longo atingindo o outro lado do abismo.
- Alguém mais tem outra? – perguntou testando a corda para ver se estava bem firme. – Assim teremos um ótimo corrimão!
- Eu tenho! – respondeu Valdor. – E esta é feita pelos elfos também, assim será bem leve, embora muito resistente!
Orvalho de Aurora retesou seu arco novamente e mais uma vez atingiu o outro lado da fenda. Seus disparos foram perfeitos e, amarando as outras extremidades das cordas perto de onde estavam. Um forte corrimão se formou junto à ponte. Assim a travessia não foi muito laboriosa e todos passaram com certa facilidade. Apenas o gnomo Dális teve certa dificuldade, mas foi prontamente ajudado pela sacerdotisa Diana a atravessar. Quando todos se lembraram do velho mago, e pensaram em ajudá-lo; descobriram que de alguma forma ele já tinha atravessado e os esperava impaciente para continuar com a demanda. Estavam um pouco cansados, mas resolveram continuar mais um pouco.
Encontraram três corredores ao fundo, dois indo para sua direita e apenas um dando à sua esquerda. O trilho seguia pelo corredor do meio, ou o primeiro da direita, e seria o caminho mais óbvio pela conclusão deles. Thorvalen pediu a todos para esperarem e analisou atentamente aquelas passagens.
- Todos os túneis aqui descem, menos o da direita sem trilho! – informou o mercenário. – Apenas sinto vento pela passagem do trilho e esta, junto às outras, tem a terra mais fofa e úmida; logo, acredito que estamos perto de algum tipo de lençol freático ou mananciais. A passagem mais à direita é curta e é o único caminho que não recomendo a ir.
- Por quê? – perguntou o mago Fizban. – Se é o mais curto, então poderemos chegar mais rápido, oras! Que tipo de anão é você?
- Quero dizer que é um beco sem saída, seu velho louco!
A discussão foi interrompida pelo disparo repentino do arco composto de Orvalho da Aurora. Todos estranharam, pois ela disparou ao escuro da passagem à esquerda e armou novamente sua arma para mais um tiro. Assim ela resolveu esclarecer sua atitude e avisar aos outros:
- Hai-sin! Thanth udovein mallah! Estamos sendo observados! Não sei o que ele é, mas o acertei! Essa maldita luz sempre me atrapalha!
- Ah, se é assim sinto muito! – desculpou-se Fizban erguendo seu cajado. – Vou apagá-la então! Dumak!
- Não velho! – disse Valdor. – Não vamos enxergar assim!
As trevas atingiram inexoravelmente a todos os companheiros! A situação, que já era desesperadora, agora, sem a luz do mago, tinha ficado ainda pior. Mesmo para o anão neidar e a elfa kagonesti que enxergavam no escuro, pois demoraria ao menos um tempo para sua visão noturna se adaptar à repentina falta da iluminação. Um tempo suficiente para o que quer que os estivesse atacando poder feri-los de surpresa. Assim logo puderam ouvir um som forte como o zumbido de um grande besouro que se propagou pelos túneis, mas foi abafado totalmente pelo berro de desespero e dor que o heraldo Valdor proferiu ao cair pesadamente no chão. Sir Hector bradou pelo amigo, mas em vão, pois não podia ver nada naquelas profundas e obscuras minas.
Orvalho de Aurora sabia daquilo. Tinha que encontrar um meio de fazer com que todos enxergassem, mesmo sacrificando a vantagem que ela e seu amigo Thorvalen tinham. Sabia que aquelas criaturas tinham acertado seu companheiro no escuro, logo elas também possuíam visão noturna. Precisava encontrar um meio de dar vantagem aos amigos e causar desvantagem ao inimigo. Precisava dar um jeito de virar o jogo! Então, refletindo rapidamente, ela sabia exatamente o que fazer.
- Mãe Natureza venha a mim – iniciou uma prece. – Mostre que está em todos os locais incluindo nestas malditas masmorras! Revele meus inimigos que estão sob o manto protetor da escuridão. Permita que meus companheiros os vejam tão claro como vêem a luz dos vaga-lumes mesmo na mais profunda das noites.
Assim uma fraca, mas perceptível luz começou a emanar dos próprios corpos daqueles agressores e estes não podiam mais se esconder nas sombras das masmorras de Vingaard. Eles brilhavam como brilham as fadas e todos podiam vê-los agora.
Criaturas horrendas. Não eram homens, não eram peixes, mas tinham um pouco de ambos. Seres encurvados de calda delgada e olhos bulbosos que vinham do túnel à esquerda, alguns sem armas e outros portando azagaias.
Sir Hector e Thorvalen investiram com seus respectivos escudos ao mesmo tempo, mas apenas o oponente do anão foi arremessado para trás, se estatelando na parede e caindo morto. O cavaleiro ainda precisou sacar a espada e realizar mais um golpe contra a dura coxa de seu oponente, decepando-a.
A clériga se pôs a encontrar Valdor para poder cuidar de seus machucados. Conseguiu achar o heraldo facilmente devido aos seus gritos horrendos e pode enfim tocar em seu ferimento, pungido por uma das pequenas lanças daquelas vis criaturas.
- Cavaleiro Valente ajude-o – rezou Diana. – Se for de tua vontade cure esses machucados para que ele possa levar o bem a esta total desolação.
O velho tocou o ombro da sacerdotisa e lhe deu um sorriso que não pôde ser visto na escuridão. Entretanto a clériga se sentiu confortada tanto pelo toque do mago como pela reação de Valdor que se levantou rapidamente depois de estar curado completamente.
- Eu tenho uma magia ótima pra essas ocasiões, mas sempre me esqueço do nome dela! – disse Fizban à mulher. – O pior é que esta é minha magia preferida!
- Procure em seu livro homem! – falou Diana retirando uma tocha de sua mochila – Precisamos de sua ajuda agora mais do que antes!
Instintivamente a sacerdotisa retirou um dos saquinhos que levava na cintura e delicadamente derramou seu conteúdo na ponta da tocha.
- Paladine, O Senhor dos Dragões! – exaltou ela, voltando a suas preces. – Aquele que comanda os Deuses do Bem, a fonte luzente da Cúpula da Criação! Rogo a ti, meu pai, que traga sua luz a nós e expulse a escuridão!
A ponta da tocha teve um fogo branco ateado que iluminou boa parte do local oferecendo mais ajuda ao mago e seu grimório de magias do que os dois companheiros que estavam em combate com as criaturas.
- Pronto! – disse a sacerdotisa. – Essa chama não se apagará nunca! Agora, por favor, procure a magia que falou em seu livro, meu querido Fizban!
Os dois homens de armas continuavam à frente, alheios à luz eterna de Diana, confrontando e chamando a atenção dos inimigos para eles mesmos, dando tempo para Valdor se recuperar.
Thorvalen talhou com seu machado mágico dois daqueles monstros e prosseguiu sua caminhada da morte. Sir Hector golpeou com sua espada um oponente que não caiu, mas seu segundo ataque, um corte de giro, acabou dividindo seu inimigo ao meio.
- Skum! – bradou o anão. – São skuns estes malditos!
- O quê? – perguntou gritando o Cavaleiro de Solamnia enquanto atacava mais uma criatura. – Eles são o quê?
- Homens anfíbios que vivem em cavernas! Meu povo vive tendo que tirar esta peste dos subterrâneos! Esperemos não encontrar nada pior...
A elfa selvagem pensou em pegar seu arco e atirar contra aquele bando de criaturas hostis, mas contemporizou melhor sobre aquilo. Ela poderia acertar seus novos companheiros na confusão daquela contenda. Julgou que seria mesmo melhor fazer outra coisa.
- A Natureza ainda está aqui! – disse Orvalho de Aurora. – Então que ela se erga! Levante e retome este lugar maldito! Que tua fúria prenda aqueles que abusam de ti, oh grande mãe de todos!
Ervas daninhas começaram a brotar do chão de dentro das frestas e rachaduras que havia em todo lugar. Trepadeiras cresceram e se enrolavam sobre os corpos dos anfíbios skuns prendendo seus movimentos e esmagando os ossos de alguns. Sir Hector e Thorvalen quase foram pegos junto às folhas.
- Que sortilégio novo é esse! – resmungou o anão. – Pare com isso já que eu ainda tenho que apresentar minha Lâmina Glacial a muitos deles!
Entretanto, apesar da bravata, o experiente mercenário não viu quando uma das criaturas, que escapou da magia élfica, pulou por cima das plantas e foi ao encontro dele. Caiu sobre seu corpo e mordeu Thorvalen no pescoço, arrancando um pedaço de sua pele e fazendo jorrar uma quantidade enorme de sangue. Sir Hector ergueu sua espada para ajudar o amigo, mas o skum caiu morto vitima da adaga afiada de Dális que foi arremessada contra ele pelo próprio gnomo.
- Veja! – disse Diana. – Eles ainda precisam de nossa ajuda, meu bom senhor! Vamos, mago! Use com presteza tuas palavras arcanas!
- Ah, é essa mesmo! – exclamou Fizban que, retirando algo mal-cheiroso de sua bolsa, e se pôs a fazer gestos estranhos, mas muito precisos e ritualizados. – Muito obrigado minha filha! Ast kiranan kair-soth aran.
- Pela Canção da Vida, não! – gritou Valdor para os guerreiros. – Saiam logo daí vocês dois!
Uma esfera flamejante irrompeu o ar a partir da mão do mago enquanto Sir Hector e Thorvalen fugiam na direção oposta. A bola de fogo acertou uma das criaturas e explodiu violentamente no túnel. Ateou chamas em todos os skuns daquele bando maligno e o choque fez com que as pedras das paredes e do teto desmoronassem e se algum daqueles monstros sobreviveu à poderosa magia de Fizban, eles com certeza deviam ter morrido no desabamento da caverna.
Diana aproveitou para ver se Valdor estava realmente bem, mas o heraldo já estava recuperado devido à magia de cura da Reverenda de Paladine. Assim foi até Thorvalen para ver seu ferimento...
- Balela! – exclamou ele. – Não preciso de sua ajuda!
Mesmo sem o consentimento do mercenário a sacerdotisa invocou novamente seu Deus e o curou. Tão logo sanado da mordida do monstro o anão da colina foi até os escombros provocados pelas palavras de poder do mago e analisando o local voltou a resmungar:
- Bah, magia! Agora não podemos tomar este caminho! Vamos ter que seguir os trilhos mesmo!
- Temos ainda o outro caminho da direita! – disse Fizban. – Por que você não gosta dele? Ele fez algo a você, mestre anão?
- Pelas barbas de Reorx! Este velho é pior que o gnomo! Vejam bem, melhor decidirmos isso logo, pois aquilo são skuns e se forem liderados pelo que eu estou pensando, a coisa vai ficar pior!
- Como assim? – perguntou Dális. – Quem os lidera? Seria um homem peixe gigante? Um anfíbio sedento por sangue? Uma criatura cheia de tentáculos? Talvez um Dragão! Espero que não seja um, pois essas criaturas são implacáveis sabe? Ouvimos muitas histórias no Monte Deixapralá contadas pelos senhores dos cavalos...
- Escutem! – interrompeu Orvalho de Aurora. – Estão escutando isso?
Ninguém respondeu a elfa kagonesti que se colocou rapidamente a entrar na passagem da esquerda e foi assim seguida pelos demais. O velho mago ainda deu um sorriso vitorioso para Thorvalen que resmungou algo baixo, mas parou quando finalmente tinha escutado o que sua companheira ouviu lá atrás.
Agora todos podiam ouvir os horrendos sons vindos do fim daquele túnel, aquilo que tinha consternado tanto sua amiga. Os sete companheiros instintivamente se colocaram a correr a fim de ajudá-la.
Não era uma longa passagem como o anão neidar já tinha revelado e sem demora chegaram a um corredor para ver uma das coisas mais tristes que tinham visto em vida.
- Uma masmorra realmente! – afirmou Fizban, O Fabuloso. – A Masmorra de Vingaard!