Ascensão do Inimigo

A Guerra da Lança tinha chegado ao seu fim, grandes cavaleiros se sacrificaram para manter a paz, mas o exército maligno não tinha sido derrotado totalmente. Em sua poderosa fortaleza a Dama Azul ainda planejava um último ataque de sua Armada Dracônica aos Reinos de Solamnia. No entanto, um mal muito mais antigo foi despertado sem o conhecimento de nenhum dos lados. Um inimigo incrivelmente poderoso que usa sutilmente sua influência sombria para alcançar seus objetivos. Cabe a um grupo de bravos heróis confrontar esse perigo avassalador que a todos domina. O Sussurro das Trevas é um épico de fantasia dividido em três partes que narrará uma saga no mundo de Dragonlance.

Poema dos Seis Heróis

“A palavra será a redenção dos pecadores
Apenas o mais misericordioso a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O escudo será a proteção dos desamparados
Apenas o mais honrado o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

A espada será a justiça dos oprimidos
Apenas o mais temerário a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O cajado será a lei dos desesperados
Apenas o mais prudente o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

A flecha será o equilíbrio dos soberbos
Apenas o mais sábio a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O machado será a vingança dos esquecidos
Apenas o mais audacioso o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas”

domingo, 5 de setembro de 2010

Capítulo VI - Os Amores de Anne

Era uma tarde do mês de Larebrum no Jardim da Despedida quando flores estavam fechadas ainda, guardando seu perfume delicioso para as noites de verão. Elaine estava em um dos maravilhosos piqueniques que costumava fazer naqueles jardins apenas com a sua família, sem a presença de outros nobres, sem a presença dos cavaleiros. Ela olhava feliz para as Jasmins-da-noite e perguntou a si mesma se Vivianne tinha sentido toda essa alegria assim como a que vivia naquele momento.
Estava grávida novamente e sentia que nada podia estragar sua felicidade agora. Já tinha dado dois filhos ao marido e queria uma filha agora, para ser sua companhia quando os homens fossem a guerra. Sabia que haveria guerra, mesmo que as rebeliões contra os cavaleiros nunca tenham atingido Relgoth, sabia que a paz duraria pouco; a paz sempre durava pouco, mas não se importava, pois estava eufórica.
Elaine tinha feito um bom casamento, era a Senhora da Cidadela e seu pai estava orgulhoso, pois era a filha mais velha e seu irmão era muito pequeno, assim um bom casamento era tudo o que se desejava nesses casos. O nome não se perpetuaria por ela, mas a renda da família estava garantida e Elaine, mais uma vez, estava grávida.
Então a senhora imaginou novamente se Vivianne tinha ficado assim quando esperava por seu filho. Olhou em volta e imaginou como deveria ser grandioso o amor de Sir Pellimore Launwaine, para que ele construísse o Palácio de Vivianne que, sua senhora, retribuiu criando o maravilhoso Jardim da Despedida. Claro que o jardim recebeu esse nome apenas quando Sir Pellimore foi para os campos de Dergoth, onde foi deflagrada a Guerra dos Portões dos Anões e não mais voltou para a sua Vivianne, não mais voltou para o seu amor materializado nesse Palácio.
Entretanto ela esperou seu cavaleiro voltar, plantando Jasmins-da-noite, naqueles jardins toda noite e ele nunca voltou, assim logo morreu de tristeza deixando seu herdeiro, Sir Cadwallon, aos cuidados do regente de Relgoth que decidiu fazer do Palácio de Vivianne a nova sede do governo, depois da queda das minas e da cidade alta. Foi depois desses eventos que todos os relgothianos também chamavam aquelas flores de Senhora-da-noite, cujas cores púrpuras se tornaram à cor de luto da cidade, como já eram dos elfos.
Elaine gostava dos contos de Vivianne, pois ambas tinham o apelido de Anne, que em élfico significava orvalho. No caso da esposa de Sir Pellimore isso não era um acaso, já que ela era uma realmente uma elfa, uma druidisa do povo dos Qualinesti que tinha se apaixonado por um humano. Seu povo não aceitava aquela união, então Vivianne largou tudo, até sua pátria, para viver seu amor, para viver com seu cavaleiro. Nada poderia ser mais trágico, pensou Elaine, esperava não ter um fim assim.
- Está tudo bem, Anne? – perguntou seu marido. – Parece meio distante...
- Estava pensando em meu filho. Onde será que ele está?
- Deve estar brincando com aquele amiguinho camponês dele!
- Não fale assim, meu amor! Marhaus meu querido, ache Heitor, sim?
O garoto que acompanhava o casal saiu à procura do filho da senhora e entrou nas partes mais escuras dos jardins. Não foi muito difícil de achá-los, pois sabia bem onde gostavam de brincar. No entanto, ficou muito assustado com o que viu.
Heitor estava usando seu amigo de cavalinho, estava montado encima dele e com golpes de vareta ele montava em suas costas. Seria uma brincadeira inocente se Heitor não fosse um nobre e o pobre amigo um servo. Assim o pequeno Marhaus ficou indignado e gritou:
- Não faça isso com o pobre coitado! Não vê que o está humilhando?
- Por quê? Ele disse que não tinha problema?
- Claro seu idiota, – o garoto respondeu tirando Heitor de cima do camponês. – do contrário, seu pai dará uma surra nele! Como a surra que vou te dar agora!
Os dois garotos se atracaram como dois pequenos leões, rolaram pelos jardins se esmurrando e dando pontapés. Eles não ouviram quando o pequeno campônio saiu correndo e chorando, assim como não ouviram quando seus pais chegaram, mas ouviram quando a ordem foi proferida:
- Parem! – disse Sir Baldwin. – Pelos antigos Deuses, vocês dois são irmãos!
- Pai – respondeu Marhaus. – ele estava judiando do pobre do Valdor, usava o coitado de cavalo, eu...
- Não perguntei, quero que suba para seus aposentos para refletir o que fez e só quero vê-lo novamente quando eu o chamar!
- Estou muito decepcionada, Marhaus! – disse Elaine. – Não deve deixar a violência tomar conta de você!
- Sim, sua mãe está certa! – voltou a dizer o pai. – Um Cavaleiro de Solamnia deverá sempre agir com serenidade, uma espada só sairá de sua bainha para se defender, nunca para ameaçar, como está escrito na Medida!
O garoto saiu soluçando pelo choro contido, pois sentia que os pais amavam mais seu irmão mais velho do que a ele. Era pequeno demais para entender o por que estava errado em sua atitude, apenas via que era castigado enquanto seu irmão, mesmo estando errado, não. Pensou que não havia justiça naquilo, mas um dia provaria seu valor.
Entretanto isso não era verdade, o Barão apenas não castigava seu filho na frente do mais novo, pois não queria que Marhaus desrespeitasse o irmão.
- Heitor! – disse Sir Baldwin. – Logo vai abandonar esse nome de criança que sua mãe te chama e vai se tornar Hector, um homem, um cavaleiro! Não poderá tratar os outros dessa maneira.
- Não entendo...
- Escute-me e escute bem! Não pode fazer das pessoas o que quer, tem que entender que seu amigo é um camponês e é claro que vai fazer tudo que pedir, mas tem que respeitá-lo! É a família dele que nos alimenta e é nosso dever protegê-los e não usá-los como cavalo, não usá-los para nossos caprichos, entendeu?
- Acho que sim pai, desculpe!
- Um Cavaleiro de Solamnia deverá, tendo prometido proteger um inocente, nunca lhe aplicar maus tratos, guardando-o de todo perigo ou afronta.



Leodegan limpava o balcão diligentemente como sempre fazia entre um pedido e outro. O Dragão de Bronze era a maior estalagem em Relgoth e uma das maiores de toda Solamnia. Estava dividida em uma Taberna com palco no primeiro andar, onde também ficavam a cozinha e o estábulo do lado de fora; o empório no segundo andar que também tinha o quarto do dono e camarotes para o teatro; e finalmente, o terceiro andar com vários quartos para hóspedes e viajantes.
Era comum dizer que a Estalagem Dragão de Bronze tinha tudo para os aventureiros que estavam de passagem e isso, claramente, não estava longe da verdade. Todos os funcionários se esforçavam ao máximo para manter o lugar sempre cheio de suprimentos e tinha um ótimo atendimento. O lugar era limpo e tinha poucas brigas, pois poucos queriam encrenca em um lugar que tinha um antigo Cavaleiro de Solamnia como dono. Logo, a hospedaria estava sempre lotada.
Entretanto, mesmo assim, Leodegan percebeu a entrada de um estranho trio em sua taberna. Eram um anão da colina, uma elfa selvagem e um pequenino gnomo, que rapidamente foram atendidos por uma de suas atendentes que os levou a uma mesa ao fundo e perto de uma enorme janela. Aquele era um dos melhores lugares e sempre estava reservado a clientes especiais fazendo o taberneiro pensar o porquê sua jovem funcionaria os colocou ali, mas ela logo veio até o balcão e explicou:
- Patrão, aqueles ali querem lhe falar!
- Os colocou em uma mesa reservada. Bertha. Quero saber o porquê.
- Disseram que eram amigos do filho do Barão, Sir Hector!
- Acreditou neles?
- Ora, não sei! Não me parecem mentirosos.
- Está certo! Vou ver o que querem.
O dono da hospedaria pegou uma caneca para limpar e com um sorriso foi até os estranhos aventureiros. Ele era um homem de estatura média, mas muito forte. Logo se percebia que já foi um homem de armas e, contudo, seu ar nobre podia indicar que tenha sido um cavaleiro, embora não tivesse bigode. Tinha a pele negra, mas seus olhos eram verdes indicando ancestrais brancos, talvez solâmnicos, e mantinha os cabelos brancos bem curtos.
- Meu nome é Leodegan – disse aos companheiros. – Sou o dono do Dragão de Bronze.
- Sou Thorvalen e esses são Orvalho da Aurora e o pequeno chama-se Dális.
- Prazer, em que posso ser útil?
- Sir Hector disse que não nos cobraria a estadia. Somos conhecidos dele!
- Muitos dizem que são...
- Está dizendo que estou mentindo?
O taberneiro se viu em uma situação delicada, pois conhecia bem a fama dos anões se irritarem com uma dúvida sobre sua palavra. Eram piores que os cavaleiros, já que uma vez bravos, tornava-se quase impossível acalmá-los. Por outro lado, também não sabia se estavam dizendo a verdade. Era fato que o jovem cavaleiro era dado a amigos incomuns, mas ele estava longe da cidadela, ou pelo menos pensava assim.
- Não ouso duvidar de suas palavras, mestre anão! – disse finalmente Leodegan. – No entanto, entenda que Sir Hector está longe daqui!
- Está errado! – afirmou o proscrito. – Ele chegou conosco e foi para o Palácio de Vivianne.
- Ajuda se dissermos que a mãe dele o chamava de Heitor? – perguntou a kagonesti. – Acho que apenas os amigos saberiam disso, não?
- Sim, Anne o chamava assim – respondeu o taberneiro com um ar sombrio. – Agora acredito em vocês e peço sinceras desculpas se os ofendi de alguma forma.
- Certo! – exclamou o neidar. – Está acostumado a lidar com humanos!
Leodegan não deu atenção para o insulto, na verdade estava acostumado a lidar com várias raças e podia dar conta da situação tranqüilamente. Como a atendente que os acomodou estava ocupada, ele mandou outra funcionária para atendê-los. Agnes era mais experiente com outros povos e se sentiu tranqüilo com a mudança. Logo se esqueceu dos três e pensou sobre a volta de Sir Hector e somente naquele momento percebeu o quanto estava com saudade.
Orvalho da Aurora acompanhou com os olhos o taberneiro e percebeu o quanto ele tinha ficado consternado com toda aquela conversa. Lembrou-se da conversa com o Cavaleiro de Solamnia no Bosque da Caça. O filho do Barão tinha dito que apenas a família de sua mãe a chamava de Anne. Assim concluiu que o dono da Estalagem Dragão de Bronze só poderia ser parente de Elaine, a antiga Senhora da Cidadela. Seus pensamentos foram interrompidos pela aproximação da atendente.
- O que vão querer? – perguntou Agnes. – O pato assado está ótimo!
- Tem carne de porco? – perguntou Thorvalen .– Bem salgada?
- Claro! Para os três?
- Pode trazer pra mim também! – respondeu Dális. – Estou louco por uma cerveja também. Prefiro a preta, mas se não tiver pode ser a dos anões, mas se não tiver também eu...
- Temos cerveja preta!
- Gostaria de Quith-pa se tiver! –disse a kagonesti. – Hidromel para beber.
- Frutas secas? Claro!
A funcionária da taverna se retirou com os pedidos e foi atender outra mesa. Sem qualquer explicação o pequeno gnomo saiu correndo pelo lugar ignorando os protestos do mercenário, que olhou para a druidisa. Ela respondeu com um modesto sorriso e olhou estranhamente para o lado mexendo suas orelhas.
- O que foi elfa? – perguntou o neidar proscrito, – Algum problema?
- Aqueles homens ali estão falando de uma doença que matou suas esposas.
- Bah! O que tem demais?
- Não é a primeira vez que escuto isso nessa cidade!
- Hum, é uma praga, e?
- Estão dizendo que nem os clérigos de Mishakal conseguem sanar a doença!
- Pelas barbas de Reorx!
- Já houve nessas terras algo assim, foi há uns trinta anos. A Praga da Medusa!
- Acha que está acontecendo novamente?
- Não sei, mas meu povo sempre diz que um grande mal sempre tem como arauto uma praga assim. Algo muito ruim está prestes a acontecer!



O Salão dos Escudos tinha esse nome porque era o único lugar em um castelo onde ficavam as cotas de armas que representavam cada família de cavaleiros que protegiam a cidadela. Eram escudos grandes de aço, postos lado a lado e no centro um escudo de corpo representando o lorde do castelo. Assim, no Palácio de Vivianne não era diferente.
Estavam mais de dez escudos; entre eles quatro famílias de Ergoth, Donner, Guardiãorreal, uth Galadoun e uth Kaer-dun; duas de Sancrist, Altocastelo e Markenin; cinco tradicionais de Solamnia, Brochvael, di Hamilton, Tarinius, Olhodáguia e uth Helmar; e três refugiadas, Delancis, di Kardigan e Guardacaminho. Claro, sem mencionar o escudo central dos Launwaine que comandavam a cidadela desde 1772PC.
No entanto, todos os escudos foram retirados de seus lugares e foram colocados dois da família dos Launwaine para o Duelo da Honra. Os combatentes eram dois irmãos, Sir Hector e Marhaus. Então apenas suas cotas de armas estavam nas paredes do Salão dos Escudos, era assim que deveria ser, como escrito na Medida. Estavam apenas com espadas de madeira de forma que a contenda não matasse nenhum deles.
O heraldo Valdor estava explicando as poucas regras aos dois duelistas e seu nervosismo era aparente. Temia por seu amigo, mas sabia que ele tinha que estar ali e deveria obedecer a seu pai, como estava escrito na Medida. Então um dos desafiantes, Marhaus, perguntou:
- Como pode ainda ser amigo dele?
- Deixe o em paz! – exclamou o irmão mais velho. – Sua briga é comigo.
- Eu posso falar! – disse Valdor. – Seu irmão já cometeu erros no passado como todos nós, meu senhor! No entanto, aquela pessoa não existe mais, Heitor se tornou Hector!
- Acredita mesmo nisso?
- Sim!
Somente os Cavaleiros de Solamnia ficaram no Salão, pois apenas os nobres podiam assistir a um Duelo de Honra, assim estava escrito na Medida e eles formaram um círculo para dar espaço aos combatentes. Sir Baldwin, o Barão, ordenou que se iniciasse a contenda.
Os dois irmãos ficaram parados por um momento, um em frente do outro, apenas estudando seu oponente. Marhaus empunhava a espada acima da cabeça com as duas mãos, uma guarda alta, uma postura agressiva de ataque. Sir Hector segurava a espada relaxada para baixo e a mantinha atrás de seu corpo, com o ombro esquerdo à frente, uma guarda natural, uma postura de tranqüilidade.
Foi o irmão mais novo que iniciou o ataque girando sua arma em um semicírculo pela direita tentando acertar seu adversário na perna que, este, simplesmente esquivou e golpeou de baixo para cima e quase acertou o agressor na altura da cabeça.
O irmão mais velho voltou à postura natural, mas segurava sua espada com as duas mãos dessa vez. Marhaus, depois de recuperado do susto, investiu com um pequeno salto e um ataque de estocada deixando sua arma totalmente na horizontal, o golpe da honra, pois além de parecer com um golpe de justa, para desferi-lo precisava-se negligenciar qualquer defesa.
Sir Hector conhecia bem o golpe e, desviando para o lado, deixou que seu oponente passasse. Ele poderia facilmente golpeá-lo, mas preferiu não fazer.
Ambos ficaram em guarda mediana, com as espadas encostando uma na outra, à frente deles. O jovem girou rapidamente o corpo fazendo o irmão mais velho sair da guarda e o golpeou lateralmente atingindo de forma impiedosa o tronco de seu oponente.
O cavaleiro caiu de joelhos e precisou rolar evasivamente para não ser acertado por mais um golpe de Marhaus. Foi quando notou que sua costela tinha se partido e já sentia gosto de sangue na boca. Sua visão estava embaçada e sua cabeça latejava. Já estava na hora de terminar com aquilo.
Mesmo assim, Sir Hector se levantou e com uma mão sobre o baço e a outra ainda apontando ao seu adversário. Não se entregaria, pois tinha a Medida em mente. Sendo um Cavaleiro de Solamnia deveria ter total bravura para com o inimigo, mesmo em fuga ele nunca demonstraria descontrole ou medo.
Julgando que seu oponente estava derrotado, o jovem irmão se lançou com fúria em um ataque lateral e sem técnica, apenas força. O irmão mais velho retribuiu o golpe desta vez atacando, sem se preocupar com a defesa.
Então todos no Salão dos Escudos ouviram o som de algo se partindo...



Dális, o gnomo, voltava para a mesa dos companheiros com uma enorme caneca de cerveja e mal notava qualquer um na taverna. Seus olhos estavam vidrados naquela espuma escura, pois fazia tempo que não degustava aquela bebida.
Repentinamente ouve um choque que o derrubou. O pequenino teve dificuldade de entender o que houve. Gritos de protesto foram ouvidos antes que pudesse levantar seu rosto e olhar para o imenso hobgoblin que estava na sua frente com a calça molhada de cerveja preta.
Logo foi agarrado e erguido pelas pernas ficando de cabeça para baixo. Ele começou a espernear e gritar com sua voz estridente. Queria chamar pelo amigo Thorvalen, pedindo sua ajuda. Não percebeu que o monstro tinha parado, mas notou quando foi largado no ar e se estatelando quando caiu ruidosamente no chão.
Meio tonto Dális se levantou para ver o goblin gigante caído com a Lâmina Glacial cravada em suas costas. Viu aturdido o anão proscrito se aproximar e retirar seu machado resmungando:
- Bah! Tinha que arrumar confusão não é sua matraca?
- O que eu fiz?
Haviam outros hobgoblins na Estalagem Dragão de Bronze que rapidamente se levantaram e se dirigiram para os companheiros. O confronto era inevitável e o neidar ficou chateado por ter que lutar em uma taverna tão bonita, mas sabia que não tinha como convencer os goblinóides de que aquilo era apenas um mal-entendido, que o ingênuo gnomo não tinha intenção de derrubar a cerveja em um deles. Esperava que não destruíssem tudo.



Sir Hector estava sentado no chão, sua costela doía muito e sua cabeça latejava de dor. Olhou para sua espada quebrada, mais uma vez quebrada, e seguiu com os olhos até seu irmão, vendo que ele já estava se recuperando.
O Duelo da Honra tinha terminado dando a vitória ao irmão mais velho, mas o cavaleiro não comemorou. Agora o destino de Marhaus estava em suas mãos, já que tinha vencido a contenda e, como escrito na Medida, deveria expulsar o desafiante derrotado por ter duvidado da honra de seu pai.
O ostracismo era o que todos os cavaleiros esperavam que fosse declarado ao filho mais novo de Barão, Sir Hector sabia disso, mas aquele era seu irmão e ele não queria abandoná-lo dessa forma. Mesmo sabendo que foi Marhaus que buscara aquilo, o cavaleiro o amava e tinha que resolver a situação de forma que não quebrasse o código e nem ferisse os sentimentos do irmão.
- O Duelo da Honra acabou e a glória está com meu filho! – pronunciou Sir Baldwin que claramente rejeitava o filho mais novo. – Agora o destino do derrotado está nas mãos do vencedor, mas isso será decidido depois, pois todos estamos cansados.
- Não! – disse Sir Hector levantando-se. – Meus compromissos e deveres não serão adiados. Já tenho minha resposta.
- Que assim seja, meu filho!
- Estou ciente que a cidade de Olmeiro está com problemas, pois goblins de várias tribos cercaram o local.
Todos os cavaleiros ficaram aturdidos com a notícia, mas nenhum deles compreendeu o porquê dessa revelação agora. Então o filho mais velho do Barão continuou:
- Uma brigada será entregue a meu irmão e ele irá liderá-la e por aquela cidade a salvo protegendo seu povo.
Sir Baldwin olhou para o filho com orgulho, pois agora tinha entendido suas intenções. Marhaus sairia de Relgoth como manda a Medida, mas estava dando a oportunidade dele se destacar salvando uma cidade e assim, iria não só com dignidade, mas se salvasse Olmeiro ele seria reconhecido novamente e poderia pedir o treinamento para se tornar um Cavaleiro de Solamnia. Os anos tinham trazido sabedoria a Sir Hector e seu pai se orgulhava disso.
- Que assim seja! – afirmou o Barão.



Leodegan não demorou muito para arrumar toda aquela bagunça. Os hobgoblins não deram muito trabalho para o anão e sua amiga elfa, mas mesmo assim várias cadeiras foram quebradas e os clientes derrubaram as mesas quando fugiram e precisou que o taverneiro e suas três atendentes arrumassem tudo para abrir a estalagem novamente.
- Agnes, onde estão os forasteiros? – perguntou o dono da hospedaria. – Onde estão Thorvalen e a Orvalho da Aurora?
- Foram presos! – respondeu. – A guarda os levou!
- Não! – Leodegan pensou e voltou a falar. – Emma, traga Theodore para cuidar do balcão. Bertha, eu quero que entregue uma mensagem para mim.
- Vai sair? – perguntou Bertha. – Para onde vai?
- Vou tirá-los da cadeia!
- Por quê?
- Porque eles são amigos do meu neto!
Foi dizendo isso que Leodegan uth Galadoun, pai de Elaine e sogro do Barão, saiu apressado de seu estabelecimento, a Estalagem Dragão de Bronze, para libertar os companheiros de Sir Hector, o amado de sua Anne.

Nenhum comentário:

Postar um comentário