Ascensão do Inimigo

A Guerra da Lança tinha chegado ao seu fim, grandes cavaleiros se sacrificaram para manter a paz, mas o exército maligno não tinha sido derrotado totalmente. Em sua poderosa fortaleza a Dama Azul ainda planejava um último ataque de sua Armada Dracônica aos Reinos de Solamnia. No entanto, um mal muito mais antigo foi despertado sem o conhecimento de nenhum dos lados. Um inimigo incrivelmente poderoso que usa sutilmente sua influência sombria para alcançar seus objetivos. Cabe a um grupo de bravos heróis confrontar esse perigo avassalador que a todos domina. O Sussurro das Trevas é um épico de fantasia dividido em três partes que narrará uma saga no mundo de Dragonlance.

Poema dos Seis Heróis

“A palavra será a redenção dos pecadores
Apenas o mais misericordioso a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O escudo será a proteção dos desamparados
Apenas o mais honrado o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

A espada será a justiça dos oprimidos
Apenas o mais temerário a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O cajado será a lei dos desesperados
Apenas o mais prudente o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

A flecha será o equilíbrio dos soberbos
Apenas o mais sábio a portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas

O machado será a vingança dos esquecidos
Apenas o mais audacioso o portará
O Mal rastejará novamente para as profundezas”

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Capítulo II - O Cavaleiro e o Mago

Nossa história começa, de fato, na Era do Desespero, em seus últimos anos, chamada pelos estetas de Período dos Dragões. Precisamente 356 anos após o Cataclismo, em um lindo amanhecer do segundo dia de Kirinor do mês de Riaverde. Era a aurora da primavera, e mesmo assim, quase na metade do mês, ainda podia se ver a neve nas montanhas. Isso, claro era incomum, mas não impossível. Apenas mostrara o quanto o inverno tinha sido rigoroso naquele ano.
Sir Hector Launwaine olhava distraidamente, enquanto escrevia em seu diário, o gelo derretendo nas montanhas, mas não eram quaisquer montanhas. Ele estava na Rota dos Cavaleiros, que ligava a capital Palanthas ao Forte Vingaard, e de fato ficava entre uma cordilheira, também conhecida pelo nome Vingaard, o mais famoso complexo de montanhas de Solamnia.
O cavaleiro estava entretido com a deslumbrante paisagem, já havia atravessado a famosa Torre do Alto Clero há não mais de um dia e, assim sendo, não faltava muito para chegar ao seu destino, à bela Relgoth, a Cidade dos Leões de Bronze, sua terra natal.
A cadeia de montanhas e a Torre formavam uma defesa formidável para Palanthas e realmente salvou a “Jóia do Norte” durante a Guerra da Lança. No entanto, cobrou um alto preso, a vida de seus preciosos Cavaleiros de Solamnia, incluindo o valoroso Sturm Montante Luzente.
Sir Hector era apenas um garoto na época e ainda estava sendo treinado em Sancrist, onde ficava a sede da cavalaria. Estava lá na histórica nomeação de Sturm e foi a única vez que ele o viu, infelizmente, mas mesmo assim, seus atos de bravura o inspiraram. Sempre foi o sonho de seu pai que ele se tornasse cavaleiro e agora ele voltava para casa como um recém-nomeado Cavaleiro da Coroa. Todos ficariam orgulhosos.
Ele estava muito diferente do que seus familiares se lembrariam. O cavaleiro tinha se tornado um homem alto, mesmo para os padrões solâmnicos. Tinha os olhos azuis, típicos daquela terra, mas seus cabelos eram curtos e castanhos escuros, diferentes do comum loiro do lugar. Tinha o bigode bem cuidado, como todos da cavalaria, mas o mantinha curto. Era muito musculoso, a ponto de perder a agilidade para esquiva, como dizia Lorde Gunthar, seu instrutor, mas compensava sua defesa portando um grande escudo de metal.
Seu escudo possuía o emblema dos Cavaleiros de Solamnia, um martim-pescador com escudo no peito, uma coroa na cabeça e pisando em uma espada emaranhada de rosas. Obviamente a coroa, espada e rosa eram símbolos das três ordens de cavalaria solâmnica e o pássaro era o símbolo daqueles reinos. Sir Hector adoraria usar o escudo de seu clã, mas isso era permitido apenas para o cavaleiro mais velho de sua família, no caso seu pai.
Já estava com a armadura típica dos Cavaleiros da Coroa, feita de aço, que era raro em Ansalon, devido a tantas guerras. Uma proteção finamente trabalhada com uma grande coroa entalhada no peito. Era uma Armadura de Batalha completa, que o tornava ainda mais lento, mas cobria-lhe o corpo inteiramente. Seu elmo tinha asas de pássaro esculpidas nas laterais, uma homenagem a Habbakuk, o Deus padroeiro de sua ordem.
Possuidor de uma espada longa, típica dos cavaleiros, mas esta também era muito bem forjada, encravada de jóias. Junto ao seu escudo tinha o balanço perfeito e ele sempre treinava o combate de ataque e defesa, espada e escudo. Era a única arma que o cavaleiro possuía e, como descrito na Medida, era a única que deveria possuir, embora ultimamente tivessem aparecido mais e mais cavaleiros arqueiros e é claro, sempre havia aqueles que usavam a lança de cavalaria.
O nobre se levantou, julgando que já era hora de continuar a jornada, foi até seu cavalo, prendeu a espada em sua sela e voltou-se para seu companheiro que ainda estava em sono profundo.
- Acorde, Valdor. Já é a hora do despertar!
- Ah, o problema de vocês cavaleiros é que se levantam muito cedo!
- E o seu é o ócio, eu imagino! Vamos, a estrada nos espera!
Assim o dorminhoco companheiro do Cavaleiro da Coroa se levantou. Valdor era um amigo de infância de Sir Hector, mas não era um nobre. Vindo de família que servia aos Launwaine, os dois foram criados juntos. Essa amizade rendeu uma educação aprimorada ao jovem camponês que, uma vez pajem, tornou-se escudeiro do cavaleiro.
Enquanto Launwaine estudava em Sancrist o jovem fora para o Colégio de Bardos Ergothiano, em Lancton. Era o maior centro de heraldos, como eram chamados os bardos em Solamnia, de toda Ansalon. Lá aprendeu Filosofia, Heráldica, História, Música, Religião, entre muitas coisas, mas o que mais gostava, o que mais se gabava de ter aprendido bem era a Oratória, e nisso ele era realmente espetacular.
No entanto, seu corpo também foi educado. Sabia usar uma espada, não tão bem como um cavaleiro, mas sabia. Logo ele tinha um sabre em sua cintura, mas esta não era sua única arma. Também tinha uma besta incomum. A arma tinha um mecanismo de repetição que podia disparar dez quadrelos sem ter que recarregar. Um presente do seu amigo que a conseguiu com os gnomos em sua passagem pelo Monte Deixapralá.
Assim o heraldo tinha a estatura típica de um solâmnico, ou melhor dizendo de um nobre, pois era bem alto. Seu corpo era esguio, ao contrário do companheiro, dando-lhe uma leveza e graça impressionantes. Tinha cabelos loiros na altura dos ombros e olhos verdes. Sempre sorria e carregava consigo um alaúde modesto que às vezes tocava.
- Ócio? – disse Valdor – Há algum mal nisso? Ora! Não é outra coisa, senão o ócio que torna a filosofia ergothiana comparável a élfica!
- Sim, e não é outra coisa, senão os escravos, que tornam os ergothianos ociosos! – replicou Sir Hector imitando a forma de falar do amigo.
- Um costume nefasto sem dúvida, mas faz parte da tradição deles, você deveria respeitar isso, cavaleiro, lembra-se? A Medida? Como era mesmo? – O escudeiro refletiu e recitou – Ah, sim. Um Cavaleiro de Solamnia deverá respeitar todas as culturas diferentes e ideais diferentes, ele nunca interfere no livre-arbítrio dos outros.
- Ora, claro que me lembro! Principalmente do quinto livro! – indignado, proclamou o cavaleiro – Um Cavaleiro de Solamnia deverá fortalecer os fracos, enriquecer os pobres, libertar os escravos, proteger os indefesos e dar aos necessitados.
Assim os dois sorriram e o Launwaine voltou a falar.
- Libertar os escravos! Não possuo tua capacidade de interpretação, meu caro amigo, mas veja que a Medida é bem clara aqui!
- Hum! – respondeu Valdor fazendo uma pose exagerada de sábio. – De fato, a verdade flui de suas palavras!
Os dois riram da profunda discussão, como apenas faziam amigos de longa data. Sir Hector olhou com carinho para seu amigo e contemporizou se era possível ter mais felicidade do que tinha naquele momento. Era jovem e cheio de esperança, mal sabia que seu destino lhe reservava uma estrada de maior labuta que aquela por onde seguiam.



Continuaram assim por mais quatro dias de caminhada pela estrada. Falando assuntos ingênuos e rindo deles, os dois atravessavam a cordilheira, despreocupados e tranqüilos. Sob a luz argêntea de Solinari.
- Não disse que era boa idéia iniciar a viagem no segundo Luindia? – perguntou o escudeiro. – Seria mais bonito ver Solinari no céu naquele dia também, mas ter a lua vermelha em pleno crepúsculo nos vigiando sempre é um bom presságio.
- Claro – respondeu Sir Hector. – Mas não use os termos de Ergoth para as datas, meu amigo, os solâmnicos não gostam, você sabe!
- Ah! É verdade! Desculpe! Segundo Palast então.
- Tudo bem! Foi há muito a Guerra das ...
O cavaleiro parou de falar por perceber a mudança de expressão do amigo. Havia algo errado, algo muito errado. Era fim da tarde e Solinari estava quase cheia. Lunitari estava em primeiro quarto e isso dava um leve tom avermelhado na paisagem, dificultando a visão, mas não os sentidos do heraldo.
Sem o elemento surpresa os goblins saíram de seus esconderijos nas montanhas e se prontificaram a interceptar a estrada. Estavam ali para roubar os viajantes, concluíram os dois amigos, criaturas vis sem dúvida. Eram azuis e de nariz enorme, típico dessa região, mas um deles, no entanto, era amarelo. Tinham facas cruéis como arma e usavam pequenos escudos de madeira para se protegerem. Cercaram rapidamente suas vítimas.
- Hum, sete pra cada um! – disse Valdor sorrindo.
- Querem nos roubar, presumo! – falou Sir Hector aos goblins.
- Não! Ocê tá errado! – afirmou o goblin amarelo em uma voz estridente. – Como pode pensar isso! Tamo aqui pra pega...
O goblin que parecia ser o líder parou, olhou para cima como se quisesse se lembrar de algo. Seu companheiro mais próximo, vacilante, cochichou algo em seu ouvido e a criatura voltou a falar.
- Tamo aqui pra pega pedájo, isso sim!
- Ah, essa é boa! – exclamou o escudeiro.
- Pedágio? A mando de quem? – perguntou o cavaleiro.
- Ora, dos home! – respondeu o goblin amarelo.
- Quais homens? Explique-se!
- Não importa, ocês passa o ouro e continua ou não e fica!
- Sinto muito meu caro, não entregaremos nada! Meu nome é Sir Hector Launwaine. Não quero machucá-los, mas terão que me dar passagem!
Os goblins titubearam. A covardia dessas criaturas era conhecida por todos e era para isso que o nobre apelara. Entretanto os monstros eram muitos e mesmo covardes sabiam contar, assim restabeleceram sua moral e permaneceram firmes.
- Escutem-me! – Sir Hector voltou a falar. – Se vocês me deixarem passar eu não vou machuca-los, têm a minha palavra! Minha palavra é minha honra e minha honra é minha vida!
- Ah, quem ocê pensa que é, todo metido com esse bigode aí? Um cavaleiro? Se pah, um Cavaleiro de Solamnia! – gozou um dos goblins.
- Exato, seu tratante! – respondeu Valdor.
O líder do bando já tinha entendido que estava roubando de um cavaleiro, mas confiante em seu número ele bradou:
- Ou ocês passa o ouro ou eu passo a faca nocês e pego ouro mesmo assim!
- Pela minha espada! Não tem jeito mesmo! – bufou Launwaine. – Que os Deuses guardem suas almas!
O Cavaleiro da Coroa ergueu seu escudo e nem pensou em pegar sua espada. Realmente não queria machucá-los, queria dar-lhes outra chance, assim usara o escudo como arma. Ao contrário do heraldo que desembainhou o sabre e ficou de costas para seu amigo. Uma típica tática contra vários oponentes, pois assim não seriam pegos pelas costas por aquelas criaturas covardes.
Um goblin se antecipou e pulou em direção ao nobre que recebeu sua investida com um golpe de escudo que atingiu o monstro no ar e o fez cair pesadamente sobre o outro. A pancada acabou desmaiando as duas criaturinhas. Foi eficiente, mesmo não sabendo usar o escudo como arma. Os cincos restantes, do lado do cavaleiro, se assustaram, mas a moral deles foi readquirida pelo grito de guerra do líder amarelo.
Não foi muito diferente do lado do escudeiro. Três dos goblins avançaram. Um deles se atrapalhou e errou o golpe, o outro tentou atingir a perna do seu oponente, mas este, de forma habilidosa, retirou sua perna e se colocou em base para receber o golpe da próxima criatura, que investia em estocada. Seu golpe foi aparado pelo sabre de Valdor que contra-atacou decepando rapidamente a cabeça de seu atacante.
Veloz, Sir Hector acertou outro inimigo em um vigoroso golpe de escudo, de baixo para cima, arremessando outro goblin longe. Aproveitando a força do movimento, ele desceu o escudo, como uma onda que se quebra no mar, sobre outro pobre monstrinho, que foi ao chão esmagado.
Os dois goblins que erraram seus golpes tentaram atacar juntos, mas o heraldo se esquivou de um e aparou o outro ao mesmo tempo. Mesmo assim teve tempo para acertar mortalmente um dos desavisados oponentes que mal tinha se aproximado. Fez isso e voltou para sua posição defensiva, esperando o próximo movimento, como fora treinado a fazer.
Diferente, Launwaine sabia que seu amigo podia estar com problemas e antecipou-se agarrando o líder bandoleiro pelo pescoço, levantando-o do chão. O goblin amarelo tentou esfaquear o braço do cavaleiro, mas sua armadura era resistente demais e o protegeu totalmente. Persistente no movimento o apertão fez a criatura perder os sentidos.
Novamente em um ataque combinado, os ladrõezinhos dessa vez acertaram o escudeiro. Um acertou a barriga dele, mas foi o golpe na cabeça que fez Valdor desmaiar. O nobre o viu cair no chão e rápido defendeu seu amigo do ataque de misericórdia da pequena criatura golpeando com o corpo que ainda segurava. Os quatros oponentes que ainda restavam viram o goblin amarelo caído.
- Fujam vermes, ou terão a mesma sina!
O Cavaleiro da Coroa não gostou de ameaçar seus inimigos dessa maneira, mas precisava cuidar rápido de seu companheiro, assim se conformou e ficou feliz da tática ter funcionado. Uma vez seu líder ter caído, os goblins perderam sua frágil moral e fugiram de volta para suas cavernas.
Preocupado, Sir Hector debruçou-se sobre o colega e tentou cuidar de seu ferimento o melhor possível. Usou de seus escassos conhecimentos de cura estancando o sangue e fechando o ferimento. Esperava sinceramente que isso ajudasse, ao menos, até chegar a Relgoth, por isso, tão logo colocou o heraldo no cavalo, ele partiu.
- Você ficará bem meu amigo!
O nobre falou isso mais para consolar a si próprio que por outro motivo. Sabia que ferimentos como aqueles não permitiriam que seu companheiro sobrevivesse à viagem, mas a esperança era o último sentimento que abandonava um Cavaleiro de Solamnia.
Desolado pelo ocorrido, ele quase não percebeu que alguém se aproximava, como que vindo de um caminho contrário.
A estranha figura parou bem em frente ao cavalo. Era um homem de mantos vermelhos, um capuz escondia seu rosto. Possuía um cajado platino com uma esfera na ponta presa por uma garra de grifo. Podia se ver vários sacos e asas de inúmeros pássaros presos ao seu cinto. Ele exalava um aroma forte, mas relaxante, de ervas que o solâmnico desconhecia.
- Dê-me passagem, um amigo está ferido!
- Claro, entre outras coisas, é por Valdor que o rio do tempo me trouxe aqui!
- Como sabe o nome dele?
- Ora, o que seria, se não o conhecimento, a espada de um mago!
- Quem é você?
O cavaleiro se aproximou com cautela, desmontando do cavalo ele tentou ver o rosto do estranho, que logo retirou seu capuz e deixou-se mostrar. A figura era tão estranha que até o animal se assustou. O próprio Sir Hector recuou. Se fosse um guerreiro comum ele pegaria sua espada, mas isso não condizia com a Medida, de forma que ele não tinha esse reflexo.
O homem de vermelho não tinha barba e possuía cabelos brancos devido ao tempo. Mas o que assustava eram seus olhos. Ele não os tinha e possuía horríveis cicatrizes no lugar, como se tivessem sido dilacerados. Logo Launwaine se apiedou do velho e se aproximou dizendo:
- Você está bem, senhor?
- Mesmo em uma situação tão adversa, coloca primeiro a tua compaixão! – exclamou o misterioso homem – Posso afirmar apenas que estou longe de estar desamparado, meu senhor. O honrado escudo, sem dúvida!
- Como disse?
- Sinto que não poderei responder esta pergunta a ti satisfatoriamente, mas ao menos permita que eu tente com a primeira. Meu nome é Handar e sou um arquimago da Ordem dos Mantos Vermelhos. Assim, meu caro cavaleiro, a Lua Púrpura não está no céu levianamente!
- Eu...
- Calma, deixe que eu auxilie a espada!
Dito isso o mago tirou de uma de suas bolsas um frasco. Havia algum líquido mal cheiroso e verde dentro. Ele entregou ao confuso cavaleiro e disse:
- Esta é uma erva curativa, cujo nome já está insolúvel em minhas lembranças, mas Hégion nunca falhou comigo, posso lhe garantir.
Sir Hector pegou o frasco. Nunca um nobre, principalmente naquela situação estranha, daria o frasco ao companheiro, sem saber sua procedência. Entretanto ele não via mentira nas palavras de Handar, se é que era mesmo esse o nome dele. Algo no mago gerava uma aura de confiança. Assim, com o amigo próximo ao portal das almas, o cavaleiro deu-lhe de beber.
O gosto era horrível e Valdor se levantou reclamando. Não havia mais ferimento algum. Sem entender o que houve, ele recebeu o abraço do amigo que estava feliz por vê-lo bem!
- Pelas graças da Fênix Azul! – falou o Cavaleiro da Coroa. – Funcionou realmente! Não sei como agradecer, meu nobre mago!
- Não será preciso, salvei mais vidas hoje que podes perceber!
- Opa, quem é esse? – perguntou o escudeiro.
As devidas apresentações e explicações foram feitas e todos os três juntos partiram para a cidade.



Seis dias inteiros se passaram para que eles finalmente saíssem da estrada dentro das cordilheiras. Os três, mesmo o estranho arcano, pareciam companheiros de muito tempo, mostrando o quanto fora difícil e cansativa aquela viagem até ali. O tempo que passaram criou um elo entre os aventureiros, embora a fadiga tenha os atingido totalmente.
No entanto, esse sentimento logo se esvaiu com a visão da Planície de Solamnia. Era uma terra lindamente cortada pelos afluentes do Rio Vingaard. Estavam de frente para o leste e assim podiam apreciar o amanhecer do sol por detrás da Cordilheira de Dargaard, que mesmo em sua escuridão, cedia a feixes do mais puro brilho, tornando a paisagem, em uma luta de luz e trevas, estonteantemente bela.
Podiam ver alguns castelos ao longe, mas nada tão majestoso como o Forte Vingaard. Mesmo em ruínas a grandeza da antiga capital de Solamnia ainda impressionava. Atravessado pelo Rio Vingaard o Forte fora outrora o mais importante entreposto de comércio naquelas terras. Agora não passava de morada para mendigos e piratas. Isso deveria mudar, pensou Sir Hector, nem que ele tivesse que entregar a vida para isso!
- Cuidado com seus desejos Milorde! – falou Handar. – Eles podem se realizar.
- Seria uma bela morte, meu caro! – respondeu o cavaleiro sem perceber que o mago tinha ouvido seus pensamentos. – Uma bela morte!
- Bela morte sem dúvida! Como merece um Cavaleiro de Solamnia!
A tristeza atingiu o homem de vermelho e os outros tentaram entender o porquê. Imaginaram que talvez aquele velho tivesse lutado na Guerra da Lança, e sem dúvida, ele parecia ter lutado em algum árduo conflito. Podia se ver isso em sua forma e expressões julgou Launwaine, como anos antes ele vira em seu mestre, Lorde Gunthar. As sombras do passado abandonaram o arcano quando o cavaleiro disse:
- Não dá para ver minha cidade ainda, mas seguindo por ali logo estaremos...
- Essa é a estrada de Valdor apenas, Milorde – pronunciou o mago. – Ao menos por enquanto, teu destino e o meu agora estão em Vingaard!
- Como? Não entendo...
- Quero te revelar algo que só pode ser visto lá! E devemos ir logo, tem que ser durante a Noite do Olho, e isso ocorrerá em dois dias ou três!
- Mas, a estrada para lá não nos levará em menos de uma semana!
- A Ventania nos carregará. Vamos! Diga ao seu escudeiro para ir a Relgoth e preparar sua volta, não chegará muito depois dele!
- Isso é impossível – protestou o Heraldo. – Não tem como chegar a tempo!
- Deixe isso comigo, sou um arquimago no final das contas, não?
- Se sente bem para ir sozinho, Valdor? São três dias ainda de viagem, mas não vejo problemas a partir daqui!
- Claro que posso ir, mas o que me assusta é sua confiança nesse mágico! Nem sabemos quem ele é realmente!
- Fique calmo! Seu amigo cavaleiro estará de volta no quarto Bakukal!
- É o que espero, ou juro pelo Som da Vida que o encontrarei de novo!
- Não vamos mais nos encontrar nessa vida, discípulo de Branchala!
Sir Hector deu seu cavalo para o amigo, que contrariado partiu. Os dois ficaram ali por um bom tempo, até que não se pudesse ver mais o escudeiro ao longe. Handar colocou uma das mãos na cabeça, parecendo se concentrar em algo, e logo depois relaxou.
- Então – começou o cavaleiro. – Ventania que nos levará?
- Sim Milorde! Seremos conduzidos pela filha do Céu!
Com essas palavras o arquimago vermelho guiou os olhos azuis do nobre para o horizonte. Não demorou muito para que ele pudesse ver uma enorme criatura alada sobrevoando as planícies. Um medo irracional ameaçou tomar conta de Launwaine, mas foi confortado pelo velho.
- Não tenha medo senhor de Relgoth! Ela é a prova que o bem redime os seus e de qualquer forma não estará conosco em Vingaard. Lá serão apenas eu e você, meu Lorde. O Cavaleiro e o Mago!

Nenhum comentário:

Postar um comentário